O correto é não ter desperdícios, mas, tendo-os, a empresa deve eliminá-los no menor tempo possível, o que indica eficácia. A afirmação é de Matheus Anarelli, instrutor de tecnologia para couro e calçados de Senai em Franca/SP.Em palestra durante a Couromoda 2023, na semana passada, Matheus destacou as diferenças entre eficiência (produção com o menor volume de recursos possível), eficácia (operação com os processos corretos) e efetividade (operação com o mínimo possível de recursos relacionados à matéria prima, utilização de processos corretos e foco em fazer a coisa certa), que costumam causar confusãoentre as pessoas.
Conforme o instrutor do Senai, a efetividade operacional, buscada por todas as empresas, mas alcançadas por poucas, tem componentes como comprometimento das pessoas, eliminação de desperdícios, trabalho sem falhas e sincronia com os clientes, cuja satisfação está relacionada à qualidade, custos e entregas.
“Muitas vezes, empresas priorizam a qualidade e os custos e negligenciam a entrega, comprometendo o planejamento do cliente”, disse. Por isso, segundo ele, é preciso, levar em consideração fatores como localização do cliente, que implicam em prazos diferentes de entregapara cada estado ou região.
Matheus enfatiza que atividades que agregam valor, como transformação da matéria prima e informações em peças ou produtos que o cliente precisa, devem ser mantidas, enquanto outras que não agregam valor devem ser reduzidas ou eliminadas. “São etapas que consomem recursos, mas não contribuem para o produto, como o processo de embalagem do produto, que deve ser objetivo”, explicou.
O palestrante cita oito tipos de desperdícios comuns na indústria, que devem receber atenção especial por parte dos gestores.
1 – Estoque. Problemas nesta área geralmente ficam escondidos e aumentam o tempo de atravessamento, que é a medida do tempo que um sistema produtivo gasta para transformar matérias-primas em produtos acabados disponíveis para uso. Volumes superdimensionados, por exemplo, significam recursos financeiros imobilizados. As causas podem ser planejamento inadequado, instabilidade de processo e alta variedade de peças, que geram ocupação de espaço, alto trabalho da administração e movimentação adicional de materiais.
2- Espera. Aumenta o tempo de atravessamento e o uso de pessoal. Está relacionada a fatores como processos descompassados e falhas de comunicação, entre outros, e aumenta muito a necessidade de pessoal, o descontentamento, a falta de identificação e os atrasos.
3 – Superprodução. É o pior dos desperdícios, conforme Matheus, que o credita a insegurança no processo, remuneração por produtividade e utilização antecipada da capacidade instalada. “As consequências são aumento do estoque de semi acabados e capacidade de estocagem comprometida”, explica.
4 – Processos desnecessários. São ocasionados por ações feitas durante a produção que são desnecessárias para agregar valor ao produto. É preciso analisar criteriosamente cada etapa afim de identificar as perdas”, sugere.
5 – Transporte. Problemas de transporte aumentam o tempo de atravessamento e o ritmo para a qualidade e geralmente estão relacionados estoques intermediários.
6 – Defeitos e retrabalho. Produtos com defeitos reduzem a capacidade de a empresa disponibilizar todo o volume produzido aos clientes. As causas são processos instáveis, falta de qualidade e meios de produção inadequados. Já as consequências são retrabalho, refugos e desperdício de recursos.
7 – Movimentação. O tempo de movimentação de pessoas para conseguir os componentes e as ferramentas necessárias aumentam o tempo de atravessamento, o que costuma estar relacionados a layout inadequado, contagem de produtos ineficiente e meios de produção não otimizados.
8 – Habilidades subutilizadas. A mão de obra representa cerca de 30% dos custos de produção de sapatos e precisa ser treinada e também valorizadas, com a possibilidade de os colaboradores darem sugestões de melhorias. Para isso, é necessária um cultura empresarial voltada à utilização das habilidades dos colaboradores e manutenção de um programa de premiação por sugestões que efetivamente resultem em ganhos na área produtiva.