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29/03/2017

Variação cambial prejudica calçadistas

HEITOR KLEIN
Presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados - ABICALÇADOS


Ao contrário do ano passado, quando vivíamos um momento de contração da demanda interna por calçados ao passo que as exportações indicavam uma espécie de “porto seguro” da atividade, em 2017 a gangorra se inverteu. Com uma política internacional influenciada pelas atitudes do polêmico presidente norte-americano Donald Trump, seus flertes com o protecionismo e a possibilidade de aumento dos juros básicos dos Estados Unidos – atribuição do banco central estadunidense, o FED – a taxa cambial perdeu qualquer rumo.

Como sabemos, para o exportador dois fatores são essenciais: um câmbio estável e com o dólar cotado em nível de competitividade -despido de movimentos especulativos - de forma a permitir a prática de preços compatíveis com a concorrência internacional. A estabilidade porque a mudança brusca dos valores prejudica as negociações internacionais, com preços instáveis gerando insegurança tanto para o exportador como para o importador. Já a moeda brasileira valorizada em patamar superior ao que sugere a economia real tira do exportador a capacidade de formar preços competitivos aos compradores internacionais.

No final do ano passado, com um câmbio médio de R$ 3,40, valor que esteve estável ao longo daquele período, os exportadores brasileiros lograram possibilidades interessantes de formação de preços. O resultado foi uma recuperação nas exportações de calçados, tendo a indústria do setor fechado o ano com uma receita gerada 4% superior a de 2015. Somente no último mês daquele ano, foram mais de US$ 128 milhões em calçados embarcados, muito acima da média mensal de 2016, que ficou na faixa de US$ 80 milhões.

Nova realidade
Desde janeiro de 2017, convivendo com as incertezas do cenário econômico mundial, estamos trabalhando com um câmbio médio de R$ 3,15, tendo iniciado março na faixa de R$ 3,10. Qual o reflexo disso na formação de preço? O pior possível. Seria ruim em qualquer caso, mas o momento em que essa valorização do Real acontece torna o cenário ainda mais complicado. No primeiro bimestre de 2017 tivemos algumas das principais feiras internacionais do ano: a theMicam, na Itália, a maior feira do setor em nível mundial; a Expo Riva Schuh, também na Itália, que é responsável por um grande volume de negócios; a IFLS, na Colômbia, um dos principais eventos do setor na América Latina; e a FN Platform, mostra que acontece no nosso principal mercado internacional, os Estados Unidos. O fato é que com o preço do produto brasileiro acima do praticado em 2016, quando o dólar estava valorizado, os importadores reduziram os volumes.

Para 2017, ao que tudo indica, teremos mesmo que conviver com a inversão da gangorra. Esperemos uma recuperação da demanda doméstica, depois de um 2016 para esquecer e a partir do controle da inflação, queda de juros, retomada do crescimento e geração de empregos.